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A novela em tom autobiográfico, escrito por Gabo, teve a importante missão de revelar a verdade sobre o naufrágio de uma embarcação marítima do Governo, em plena ditadura militar na Colômbia. A audácia do autor, trouxe-nos um relato agonizante, mas esperançoso.
Famoso pelo seu "realismo mágico latino-americano", Gabriel García Márquez, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1982. Tendo criado obras memoráveis como Cem Anos de Solidão, Amor nos Tempos do Cólera e Memórias de Minhas Putas Tristes.
Quanto a obra em comento, percebe-se que o relato se diferencia do estilo do escritor, sem, contudo, deixar de ser um bom livro. Trata-se da batalha pela sobrevivência travada por Luís Alexandre Velasco, marinheiro e único sobrevivente do destróier colombiano A.R.C. Caldas. Enfrentando sede, fome, e o pior de tudo: a solidão. A morte dos amigos, os quais inutilmente o narrador tentou salvar, e a ausência de pessoas, dão-lhe como paisagem apenas mar, ventos uivantes e a escuridão.
As aventuras do personagem, preso em uma balsa branca, na imensidão oceânica, tendo como conforto olhar o céu iluminado pela Ursa Menor, conferir o tempo no relógio florescente e pensar que o restante da tribulação está a salvo e vem para socorrê-lo de avião, leva o leitor a se imaginar nessa situação e a refletir qual ação tomaria.
Os torturantes dias em que fica à deriva no mar, enfrentando o hercúleo desafio de continuar a existir, são permeados por uma valsa entre a esperança e a falta de fé em si. Ao passo que a melodia (o transcorrer dos dias) avança quem conduz o baile é o desânimo. A descrença é tanta que talvez o único refúgio seja a morte.
A crueldade da fome o leva ao conflito da gaivota: de um lado há o dever moral de marinheiro de não maltratar o animal, de outra sorte existe o instituto de sobrevivência e a necessidade de se alimentar. A guerra interna o conduz ao erro cruel e inútil, tendo como expiação não reincidir.
Por tudo isso, o livro merece ser lido, por ser um BOM livro e pelo misto de agonia e esperança que oferece ao leitor, fazendo-o refletir sobre o que faria se fosse um náufrago, bem como pelas curiosidades referentes ao ambiente marítimo, os quais muitas vezes é desconhecido pelos habitantes do continente, como o fato de os tubarões serem míopes e apenas enxergarem objetos brilhantes e brancos.
Trechos:
"A única coisa que contava para me salvar era com a minha vontade e o resto de minhas forças."
"Há um instante que já não se sente a
sede nem a fome. Um momento em que não se sentem nem as implacáveis mordidas
dos sol nem a pele empolada. Não se pensa. Não se tem nenhuma unção de
sentimentos. Mas ainda não se perdem as esperanças. Ainda resta o recurso final
de soltar os cabos do entrançado e amarrarmo-nos à balsa."
"O mestre do contratorpedeiro, um
marinheiro experiente, disse-me: 'Não sejas infame. A gaivota para o
marinheiro é como ver terra. Não é digno de um marinheiro matar uma
gaivota.'"
"Em todos os momentos tentei
defender-me. Sempre encontrei um recurso para sobreviver, um ponto de apoio,
por insignificante que fosse, para continuar à espera. Mas no sexto dia já não
esperava nada. Eu era um morto na balsa."
"Antes tinha sentido medo da noite,
agora o Sol do novo dia parecia-me um inimigo. Um gigantesco e implacável
inimigo que me vinha morder a pele ulcerada, enlouquecer de sede e de fome.
Amaldiçoei o sol. Amaldiçoei o dia. Amaldiçoei a minha sorte por ter me
permitido suportar nove dias à deriva em vez de permitir que eu tivesse
morrido de fome ou esquartejado pelos tubarões."
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