2016 foi um ano difícil, seja na política
brasileira, ou na vida deste escritor estudante. Mas de tudo é preciso aprender
a extrair o melhor, do contrário o peso da existência é maior do que o castigo
de Atlas. Então, lá vou eu me aventurar nessa empreitada.
O ano de leitura foi um dos que mais li na vida, a
despeito da escrita ter sido menos densa, quase rara. Contei: terminei o ano
com quatro poemas completos e dezenas de fragmentos ainda por terminar. Mas
vida que segue, lembrando o ensinamento de Cecília Meireles no inesquecível
poema Canteiros: “eu ainda sou bem moço prá tanta tristeza // E deixemos de
coisa, cuidemos da vida, // Pois se não chega a morte ou coisa parecida //E nos
arrasta moço, sem ter visto a vida”.
Encerrei o ano com 40 livros lidos (criei uma conta
no Skoob pra acompanhar). Foram leituras bem múltiplas (ainda não tive nem
tempo e nem disposição para resenhar todos). Li encíclica do Papa, poemas,
contos, novelas, romances clássicos e contemporâneos, epístolas, livros
infantis e histórias em quadrinhos. Conheci escritores fantásticos, com
destaque para Mia Couto, Luiz Vilela (esse me arrebatou com um livro de contos
infantis), Poe (contos), Passolini (esse eu era um leigo total, não conhecia
nem o nome do incrível poeta italiano), Isabel Allende, Humberto Ecco,
Baudelaire, Arundhati Roy e Truman Capote.
Foram história tão múltiplas e ricas, que a memória
mesmo sendo falha persiste em conservar. Guardo com admiração: o rabugento
velho Tuahir, o esperançoso menino Muidinga e as aventuras fantásticas de Kindzu,
na Moçambique de Terra Sonâmbula, do Mia Couto; os sôfregos gêmeos Estha e
Rahel e o amor impossível e belo da mãe guerreira Ammu e do intocável Velutha,
de O Deus das Pequenas Coisas, da indiana Arundhati Roy, a esquizofrenia do
homem sem nome (quem bem poderia ser Josef K. de O processo, do Kafka) de Os
Parricidas, do português Luís Novais; o peso da culpa e das melancolias de Theo,
de O pintassilgo, da americana Donna Tartt; quase todos os personagens de A casa
dos espíritos, da chilena Isabel Allende, em especial Clara e Estevan; o cômico
Baudolino, de livro homônimo do Humberto Ecco; e o amor juvenil da forte Lina e
de Andrius, de A vida em tons de Cinza, de Ruta Sepetys.
Nesse ano li mais de Drummond e de Pessoas, poetas prediletos,
a partir de excelentes seleções de poemas. Consegui reler três dos meus livros
da vida: Dom Casmurro – Machado de Assis, Grandes Sertão: Veredas – Guimarães Rosa
e A Paixão Segundo G.H. – Clarice Lispector. Além de reler livros ainda não
lidos dos meus autores favoritos como as Novelas (Inácio, O Enfeitiçado e Baltazar) de Lúcio Cardoso e Felicidade
Clandestina de Lispector.
No munda da música brasileira, aventurei-me no
emaranhados de Maria Bethânia, a qual assumiu de vez o posto de cantora
favorita. Ouvi os singles e músicas inéditas dela, como Voz de Mágoa, Silêncio e
Viver na Fazenda (todos já cantados no Show Abraçar e Agradecer de 2015, mas
lançado apenas no fim de 2016), Mortal Loucura, Maria (bonita composição de Chico
Lobo) e Era pra ser. Ouvi o CD gerado do Show Abraçar e Agradecer, e conheci
composições de outros discos.
Os melhores álbuns do ano, na minha singela opinião
(ainda não tive tempo de ouvir todos os que queria, mas assim que poder vou resenha-los),
foram: Tropix – Céu, Problema meu – Clarice Falcão, O mar me leva – Zizi Possi,
Amor Geral – Fernanda Abreu e Remonta – Liniker e os Caramelows.
Dos filmes, vi poucos. Confesso que tenho certa resistência
em assistir aos filmes. Mesmo assim muito gostei de Aquarius, já um dos
melhores filmes da minha vida. Clara e a suas lutas, o seu amor aos filhos, a
sua solidão, a citação a intensidade de Bethânia, enfim tudo faz com que essa
película seja marcante.
Das séries, destaque para a produção nacional (sou e
sempre serei esse Policarpo louco), Justiça desnudou a hipocrisia reinante em
nossa sociedade, com personagens únicos como Elisa, a professora de Direito,
Fátima, com a sensacional interpretação e caracterização de Adriana Esteves,
Mayara/Suzy, Doglas e Kellen, Firmino, cantando Dona da minha cabeça, Débora e
Rose. A séria ainda tem uma excelente trilha sonora nacional, como poucas
tiveram. Destaque também para Liberdade, Liberdade, que mesmo sendo de época
consegui conquistar seu lugar.
De tudo isso, retirando leite de pedra, 2016 teve lá
os seus pontos bons e memoráveis.